RUBBER, A HARLEY VERMELHA
Quantas vezes na tristeza quotidiana colocada
Rodo a cabeça numa vã busca nem sei bem de quê
Espanta-me saber que não resisto a essa fúria
Mas não abdico de me enfurecer
Retratos sempre os mesmos
Vão-se perfilando em redor de mim
E chego a sentir que tantas dores são afinal o prémio
Volto a reparar que os desejos são sempre os mesmos
Volto sempre a verificar que as caras são sempre iguais
Mesmo que me mostrem um mundo diferente desconfio
Porque a razão hoje é inventada
E só o apetite conta
A fúria com que rodo o punho direito
Obedece a uma suave raiva que o recalca até mim
Olho de esguelha o ponteiro a evoluir
Tomara que nunca parasse de o fazer
E outra vez se assomam sempre os mesmos fantasmas
Será que é mesmo assim que me sinto livre?
Será que tudo é tão triste que nada me faça rir?
Apetece-me acelerar e pisar o travão a fundo
Provocar um derradeiro burn out mortal
Talvez soubesse então que a imortalidade não é mais do que uma prisão
Talvez nada restasse de mim senão aquilo que é puro
Para trás vai ficando no passado aquilo que há pouco era o futuro
E descubro que o tempo não conta
Descubro que o tempo somos nós
E nós nada somos
Acredito que esse Deus bom dos livros
Apenas foi inventado pelos demónios
E acelera-se-me a fúria!
Apenas a energia e o cosmos contam
Como numa simples fórmula cientifica
Somos escravos do destino e apenas podemos manter-nos
Viver!??
Só os fantasmas vivem!