Quinta-feira, 8 de Outubro de 2009

LÊR-Ralph Sonny Barger

No dia em que completa o seu septuagésimo primeiro aniversário, não poderíamos esquecer aquele que é por muitos considerado o “Pai” da cultura Biker mundial. A melhor forma que encontrámos para homenagear esta personalidade foi tentar dar aqui a conhecer um pouco mais da sua vida e da sua obra cultural, com especial relevância para a produção literária. Livros como Freedom: Credos from the Road ou Hell's Angel: The Life and Times of Sonny Barger and the Hells Angels Motorcycle Club, são indispensáveis nas estantes daqueles que procuram entender o fenómeno do motociclismo em toda a sua extensão. Claro que já se aperceberam que estamos a falar de Ralph Hubert "Sonny" Barger, o mais conhecido membro e fundador do Hell’s Angels Motorcycle Club. Desta forma aproveitamos para o saudar desejando-lhe muitas felicidades e muitos anos de vida ao mesmo tempo que esperamos contribuir, mais uma vez, para a divulgação de mais um autor de livros sobre o mundo das motos. Esperamos também contribuir para o enriquecimento dos vossos conhecimentos com estas não uma mas cinco obras de leitura indispensável.
 
 
RALPH HUBERT "SONNY" BARGER
 
Ralph Hubert "Sonny" Barger nasceu a 8 de Outubro de 1938, precisamente Há 71 anos em Modesto na Califórnia e foi o fundador do chapter de Oakland na Califórnia do maior Motorcycle Club do mundo, os Hells Angels.
Barger cresceu na Califórnia nos anos 1940 e 1950. A sua mãe tinha deixado o pai que tinha problemas com álcool e uma irmã mais velha quando ele tinha apenas quatro meses de idade. Foi suspenso na escola por várias vezes por agressões a professores, também era comum brigar com os colegas, contudo Barger não se vê como um delinquente, segundo ele próprio o facto de ter perdido o interesse pela escola, não o impediu de passar o seu tempo a ler ou a trabalhar num supermercado em vez de se envolver em roubos ou assaltos como era comum nos jovens da sua idade.
Em 1954, ainda na escola, em Oakland, Sonny Barger tinha organizado um pequeno clube num canto de rua chamado de "Anjos da Terra".
Em 1955 entra para o Exército com apenas 16 anos e catorze meses depois era expulso por se ter descoberto que tinha falsificado a certidão de nascimento para se poder alistar.
Após a saída da vida militar, Barger foi fazendo alguns trabalhos pesados, procurando sempre um propósito para a sua vida até se tornar membro de um clube de motociclistas.
Em 1956 juntou-se ao seu primeiro clube, as Panteras de Oakland, mas não era bem isto que ele procurava: "Deixei o clube mais depressa do que tinha entrado. Claro que me custou mas quando haviam problemas ninguém se unia, não sentia ali fraternidade.”
 
Ralph Sonny Barger no seu ambiente natural...a estrada
 
Durante algum tempo, Barger discutia com outros companheiros sobre a forma de iniciar outro clube. Um dos amigos motociclistas, Boots Don Reves, usava um patch com uma caveira e capacete de aviador com um par de asas que tinha encontrado em Sacramento. Boots sugeriu que o novo nome seria Hells Angels. Encomendaram os bordados e em Abril de 1957 surge este novo clube sem se darem conta que existiam já outros clubes com o mesmo nome na Califórnia. Segundo algumas fontes, o chapter iniciado por Barger em Oakland nunca terá chegado a ser votado pelos outros chapters.
 
Uma foto rara dos primeiros Hells Angels de Oakland nos anos 60
 
Após um entendimento com os outros chapters e definidos territórios e após alguma discussão sobre qual seria o patch correcto dos Hells Angels Barger toma o comando do clube de forma informal passando a ser uma pedra fundamental em todas as decisões sendo notória a intervenção de Sonny junto da Califórnia Highway Patrol, (policia de transito) acerca de um assunto que se prendia com uma moto alegadamente ilegal, numa reunião tida em Porterville em 1963. Alguns conflitos com outros clubes viriam a ter como resultado imediato a expulsão da Califórnia dos Jypsy Jokers.
Em meados dos anos 60 começam e ser formados chapters em estados fora da Califórnia bem como fora dos Estados Unidos.
 
Sonny Barger em 1965
 
Conforme explica Sonny Barger “ quando se pretende abrir um chapter num novo estado a sua abertura é sempre legitimada por votação nacional. Quando um clube demonstra vontade em se tornar Hells Angels, então visitamo-los para sabermos que tipo de pessoas são. Enviamos membros ao seu encontro e em troca eles enviam elementos para se encontrarem connosco. Podemos convida-los para um ou dois Runs e também marcamos presença nas suas actividades. Passado algum tempo, que pode variar de caso para caso, é votada a sua afiliação. Aquilo que se aplica aos clubes aplica-se também aos indivíduos...”
 
Sonny Barger e os Hells Angels
 
Em 1983 foi-lhe diagnosticado um cancro na garganta provocado por muitos anos de consumo de tabaco. Em resultado disto foram-lhe removidas as cordas vocais e após uma laringectomia Sonny aprendeu a utilizar os músculos da garganta para poder vocalizar.
Em 1988, Sonny foi acusado de ter feito explodir um club house de outro Clube rival, os Outlaws em Louisville no Kentucky e como tal cumpriu quatro anos numa prisão federal do Arizona. Após o cumprimento da pena, Sonny apaixonado talvez pelo sol do Arizona abre uma oficina de reparação de motos nas proximidades de Cave Creek.
Em 2007, Barger retoma a sua actividade enquanto membro dos Hells Angels no chapter de Cave Creek em Phoenix no Arizona para onde se mudou depois de deixar Oakland em 1998. Actualmente reside em New River no Arizona com a sua terceira esposa e uma filha adoptiva, ao seu redor foi construindo um pequeno mundo intimista do qual fazem parte cinco cavalos, três cães e três gatos. Apesar de se ter tornado um pouco mais naquilo que se convencionou chamar de “um bom chefe de família”. As viagens de moto vão sendo cada vez mais substituídas por lançamentos de livros e sessões de autógrafos com uma ou outra conferência pelo meio. Contudo esta postura em nada corrompeu a sua visão sobre a sociedade como pudemos constatar das suas declarações dadas numa entrevista ao Willamette Semanal a 23 de Agosto de 2000 onde afirmou “As pessoas estão a trocar a sua liberdade individual pela segurança. Cada vez permitem mais e mais leis supressivas entrar em vigor pensando que com isso ficam mais seguros…um dia o tiro pode sair pela culatra”
Por tudo isto e muito mais Ralph não deixa de ser adorado por alguns, odiado por outros, temido ou respeitado, mas sem dúvida seguido por muitos que, dentro ou fora do maior Moto Clube mundial os Hells Angels que ele fundou, se revêem na sua forma de estar e de seguir a vida, Ralph Hubert "Sonny" Barger é sem dúvida um dos maiores nomes referência no mundo das duas rodas desde sempre. Quer se goste dele ou não ele faz parte da história e na história do motociclismo permanecerá no mais destacado lugar que para tal exista.
 
Em França
 
Fazer referência a este nome aqui no Cavalo Alado, não é para nós mais do que fazer justiça a um homem que durante toda a sua vida controversa contribuiu para muito daquilo que de positivo tem este mundo das duas rodas. Quantas vezes quase inconscientemente e com desconhecimento das verdadeiras origens temos sido todos impelidos a evocar palavras como Liberdade, Solidariedade, Irmandade, Espírito, Respeito e Compromisso!? Claro que Sonny Barger não inventou estas palavras mas em muito contribuiu para o significado que hoje têm dentro do meio motociclista mundial e isso é simplesmente o princípio de tudo!
A sua existência desde sempre ligada às motos e ao seu clube demonstram só por si aquilo que para ele representa usar cores no dorsal de um colete e qual o verdadeiro significado da palavra “irmandade”.
Nesta personalidade complexa misturam-se de forma incrivelmente harmoniosa a firmeza das posições que toma e que por vezes tomam contornos de uma violência extrema com uma sensibilidade revelada na grande paixão que nutre pelo estilo de vida que ele e os seus milhares de irmãos espalhados por todo o mundo têm levado há mais de seis décadas e que só é possível manter com grandes doses de dedicação, organização, sacrifício e sobretudo muita paixão!
 
 
 
Mantendo o seu clube debaixo de regras rígidas onde tudo parece ser planeado ao milímetro, Sonny afirma-se como não sendo um libertário, mas não deixa contudo de ir de certa forma ao encontro desses ideais. Numa entrevista dada a 3 de Setembro de 2000 ao jornal Farmington Daily Times do Novo México, Barger afirmou: “Das vezes que votei, votei a favor de candidatos libertários. Eu sei que é desperdiçar um voto, mas é a única opção possível. Não poderia votar num candidato democrata ou republicano.” A 23 de Agosto do mesmo ano quando questionado sobre quem tinha apoiado na corrida presidencial à casa branca, respondeu: “ O Partido libertário, eles são os únicos que dão uma visão correcta do que se passa na realidade”
Apesar destas declarações, numa entrevista dada “on-line” ao WashingtonPost.com” a 19 de Julho de 2000, quando questionado sobre as inclinações políticas do seu Clube, respondeu: “Penso que somos uma espécie de apolíticos”
É obvio que esta postura não se sustenta nos princípios filosóficos das teorias libertárias, a vida de Ralph Sonny Barger moldou-se sobretudo à volta do seu espírito rebelde e de contestação às regras sociais impostas que ao contrário de libertar e elevar o ser humano, o oprimem e levam por caminhos que não se escolheram. Para contrariar este jugo, em 1956, após ter saído do Exército, Barger funda em Oakland um Chapter dos Hells Angels de onde sairiam as bases para uma expansão de nível planetário sem procedentes em qualquer outro clube do mundo.
Esta conduta levou Barger e muitos membros dos Hells Angels a enveredar por caminhos opostos aos da lei imposta e se juntarmos a este facto o habitual receio que os poderes instituídos sempre demonstraram de cada vez que qualquer grupo de motociclistas evolui e cresce, o resultado só poderia ser um… nos anos oitenta muitos membros acabariam por ser acusados de crimes e consequentemente presos.
Esta onda de detenções e perseguição policial que se arrasta até aos nossos dias, mais do que quebrar a estrutura do maior Moto Clube mundial teve e tem como resultado um crescimento mais acelerado não só dos Hells Angels MC como de muitos outros MC’s 1% por esse mundo fora. Um aumento de Chapters com a dimensão que têm os Hells Angels só pode ser possível graças a uma forte organização onde nada pode falhar, dai talvez a fama de “Duros” que os membros deste Moto Clube têm em todo o lado, por não abrirem precedentes quer nas suas convicções, quer na forma como vivem e convivem com o resto da sociedade.
Muitos foram os livros escritos sobre MC’s sob a perspectiva dos agentes da lei ou mesmo até de ex-membros que se colocaram ao lado das autoridades na perseguição a estes clubes. Mas quanto a este tema o que têm a dizer os membros destas organizações a dizer sobre si próprios? Sonny Barger é sem dúvida o mais conhecido membro de um Motorcycle Club de todos os tempos e o seu testemunho é por isso mesmo fundamental para uma análise mais completa e isenta. A visão deste homem fica assim fixada sob a forma dos seguintes livros:
 
Hell's Angel: The Life and Times of Sonny Barger and the Hells Angels Motorcycle Club, (1ª Edição 1 de Junho de 2000)
Ridin' High, Livin' Free (1ª Edição 1 de Maio de 2003)
Dead in 5 Heartbeats (1ª Edição 1 de Outubro de 2003)
6 Chambers, 1 Bullet. (1ª Edição 9 de Maio de 2006)
Freedom: Credos from the Road, (1ª Edição 2005)
 
Barger não só fez parte de alguns filmes como personagem como foi ele a maior fonte de informação para a realização dessas mesmas peliculas. A sua participação faz-se notar em cinco filmes;
 
Hells Angels on Wheels (1967),
Hell's Angels '69,
Gimme Shelter (1970),
Hells Angels Forever (1983)
Gonzo: The Life and Work of Dr. Hunter S. Thompson, mais recentemente em 2008 
 
 
 
 
 
 
Actualmente Ralph Sonny Barger encontra-se a escrever um guia para Bikers que tudo indica será editado em 2010.
Esta actividade permite-lhe ainda fundar uma empresa, a Sonny Barger – Productions. Barger descobriu aí um mercado para os produtos relacionados com o clube para além de membros dos Hell’s Angels todos os motociclistas e curiosos podem comprar motos, objectos artísticos e coleccionáveis, incluindo Hell's Angels ®,(só para membros) e produtos de Sonny Barger ™ a partir de sua página na Internet em www.sonnybarger.com . Os interessados também podem adquirir exemplares dos seus livros ou T-Shirts e calendários, ou simplesmente conhecer um pouco mais Ralph Sonny Barger.
 
 
 AS OBRAS
 
Hell's Angel:
The Life and Times of Sonny Barger
and Hell's Angels Motorcycle Club
(2000)
 
 
A leitura deste best-seller é de tal maneira empolgante que o leitor sente-se preso à descrição de alguns dos mais notórios episódios ligados à vida dos Hells Angels desde a primeira até à última página da narrativa. O estilo da escrita de Barger é ao mesmo tempo divertida e chocante, por vezes corrosiva em oposição uma riqueza informativa onde nos são dadas a conhecer assuntos tão simples como técnicas de manutenção de motos.
Por vezes tem-se a noção de que o discurso toma proporções ofensivas ou até mesmo insultuosas, não é de estranhar que o Sr. Barger o tenha feito de forma deliberada por não existir outra forma de transmitir a mensagem pretendida. Tomemos como exemplo o tema das drogas, do sexo e da violência no clube, onde Sonny Barger fala sem rodeios ou falsas morais. Aqui o autor não encobre as situações, antes sim descreve-as com um rigor factual onde se descrevem pormenorizadamente cada golpe ou cada palavrão dito.
Desta forma, pessoalmente não recomendaria este livro a menores de dezoito anos ou até a pessoas com sensibilidades mais apuradas. Resumindo, este não é um livro “politicamente correcto” e penso que de outra forma não poderia ser, tratando-se de uma análise vinda de onde vem.
De qualquer dos modos e pelo seu conteúdo limpo, honesto e frontal este livro transcende-se na sua condição de um simples Best–Seller escrito por uma personalidade famosa e passa a ser uma leitura obrigatória para todos aqueles que queiram com seriedade analisar o fenómeno motociclista da segunda metade do século XX, seja qual for a sua opinião esta é uma referência incontornável.
Talvez uma das questões que estará neste momento o leitor a colocar será a da isenção ou não de um membro dos Hells Angels quando escreve sobre o seu clube. Talvez ao ler Hell's Angel: The Life and Times of Sonny Barger and Hells Angels Motorcycle Club, tenha a tendência para pensar a dada altura que o discurso se encaminha para uma espécie de auto vitimização dos Hells Angels e que com isso possa existir uma deturpação da realidade sobre este Clube. É legítimo e inteligente pensa-lo, contudo não nos podemos esquecer da sinceridade com que Barger coloca as questões, mesmo algumas eventualmente mais incómodas para si e para os seus irmãos. Pela primeira vez é descrito por um membro dos Hells Angels o episódio de Altamont e o tipo de relacionamento com os Rolling Stones. Em suma, esta obra se mais mérito não tivesse serve como contra argumento a outras informações já disponíveis sobre os Hells Angels e que contradizem esta observação. Com a sugestão de leitura desta obra pretende-se dar a conhecer a realidade sobre aquilo que são e representam afinal os Hells Angels, cabendo ao leitor tirar por si próprio as devidas conclusões, ao contrário do que muitas vezes circula por ai impregnado, vá-se lá a saber porquê, de ruído e de mitos.
Em suma só mesmo lendo!!
 
EXCERTO DO LIVRO
 
A grande diferença entre os Hells Angels e o resto do mundo das motos são as nossas motos e a nossa forma de rodar. Isto é um assunto sério para nós. As nossas motos fazem parte de nós. Temos consciência disso. A polícia sabe disso e toda a gente o deveria saber também. A lei e a estrada são uma só coisa. Sempre que a policia sabe que um grande grupo de Hells Angels se desloca monta um enorme dispositivo, alerta a s forças policiais vizinhas ao longo do trajecto. Esta espécie de pacto mutuo, desde que me lembro que tem sido usado contra nós. Hoje as coisas são diferentes de há trinta anos atrás. Nós continuamos a rodar e eles continuam a estar atentos com toda a espécie de métodos de vigilância e equipamentos de rádio para nos observarem e manterem o controle. Não procuramos sarilhos nem gostamos de os causar, mas por Deus parece que os sarilhos nos atraem.
(…)
Uma vez no Missouri, quinze de nós estávamos sentados à beira da estrada a descansar quando um agente estadual saltou do seu carro e se dirigiu a nós perguntando: “Importa-se que lhe faça uma pergunta estúpida?”
“Não, se você não se importar de ouvir uma resposta estúpida”
“O que fazem quinze Hells Angels da Califórnia sentados À beira de uma estrada no Missouri?”
“Perdemos quatro ou cinco irmãos  e não conseguimos descobrir onde estão”
O soldado pensou por alguns segundos.
"Talvez eu vos possa ajudar. Posso pegar no rádio e tentar ver se os localizo.”
Entrou em contacto com uma série de esquadras e de outros agentes e após os ter localizado deu-nos informação sobre como nos juntarmos aos nossos irmãos perdidos.
 
Sonny Barger in
Hell's Angel:The Life and Times of Sonny Barger and Hells Angels Motorcycle Club
 
 
Ridin' High, Livin' Free
(2003)
 
 
A maior parte dos Bikers radicais tem um toque de bardo dentro de si. Não há nada melhor do que uma boa história contada por um motociclista e se a descrição conter acidentes, pancadaria em bares e mulheres bonitas, mais interessante fica a narrativa.
Enquanto o romance de estrada do género Woody Guthrie e Jack Kerouac (já aqui publicado no Cavalo Alado) se prende mais com os aspectos intimistas das personagens girando o tema à volta da reacção pessoal do individuo perante os factos e tem como objectivo descrever as situações sem se importar com o normal desenrolar das acção mas sim dando ênfase ao que de mais diferente existe na personagem, em Ridin 'High, Free Livin', uma colectânea de histórias de motociclistas compilada e editada por Sonny Barger, o enredo é naturalmente mais valorizado. Barger e os seus colaboradores Keith e Kent Zimmerman, que são também co-autores da autobiografia de Barger, pretendem reunir o que de melhor encontrou de histórias ouvidas e transmitidas no meio Biker de uma forma simplificada e acessível.
Na introdução do livro, Sonny Barger afirma "Todas as histórias foram simplificadas de forma a cumprirem um requisito muito importante: Queríamos apresentar as histórias como se fossem contadas por um desconhecido sentado num Bar qualquer, de modo a que a reacção de cada fosse a do género “será verdade ou treta?...Pouco importa!”
Na realidade, um estranho que encontramos num bar deve ter uma boa dose de verdade e de treta para contar.”
Aqui o que conta mesmo são os detalhes, as descrições, os ambientes e sobretudo a acção. A descrição das personagens é muito ligeira e a caracterização psicológica é quase nula, mas também não é isso que aqui se pretende.
Ora tecidas estas sábias considerações, e ao contrário de outros livros do mesmo autor, sugerimos que este seja um livro, não só para ler, como se recomenda a pessoas impressionáveis, mas acima de tudo para enviar pelo natal àquele amigo que quando chove e faz frio e a mota comprada, para justificar colete, na primavera anterior repousa tapada om cobertor porque se pode constipar, não sai de casa e fica à lareira a cultivar-se... Caso se impressione… talvez possamos ter mais uma bela máquina disponível no mercado com menos de um ano e com os pneus de origem em estado impecável. Também se recomenda a alguns presidentes de associações de motociclistas… quem sabe se reformem de vez?!
 
EXCERTO DO LIVRO
 
Charles Richard Anderson, conhecido como Gypsy, sonhava andar de moto, desde que vira The Wild One em 1954. Tinha dezassete anos e, como aconteceu com muita gente, o filme despertou-lhe um click. Em homenagem a Brando, Gypsy comprou uma monocilindrica britânica Ariel num stand de usados em Oakland. Comprou um blusão novo de cabedal e usava botas pretas tipo as das patrulhas rodoviárias. Tinha uma tatuagem no braço direito que dizia: "El Lobo". Agora não era apenas um espectador, agora era como Johnny, a personagem de Brando no filme. Foi assim que começou a frequentar as corridas de Drags. Gypsy adorava esta moto desde o primeiro dia. Às vezes sentava-se no alpendre e depois de olhar bem para ela, saltava-lhe para cima e dava uma volta pela cidade, quando estacionava em frete de casa admirava-a mais um pouco e de seguida voltava a dar mais uma volta. Esta rotina chegava a durar a noite toda.
 
Sonny Barger in
Ridin' High, Livin' Free
 
 
Dead in 5 Heartbeats
(2003)
 
 
Ralph "Sonny" Barger que conquistara já a atenção mundial com o seu best-seller de memórias, Hells Angel, aproveita agora a sua experiência adquirida dentro do mundo da subcultura americana ao longo dos anos para fixar no papel a sua primeira novela onde nos é revelada de forma quase cinematográfica a dor, o drama e o constante dilema que assola aqueles que dedicam as suas vidas a um clube de motos.
John Everett "Patch" Kinkade só quer que o deixem em paz. O Ex-Presidente dos Infidelz, o mais poderoso de todos os moto clubes da Califórnia, Patch cansou-se da responsabilidade e dos encargos que advêm com o manto da liderança, troca a Califórnia pelo Arizona com a intenção de iniciar uma nova vida e para ficar a um par de centenas de milhas de distância de uma tragédia que lhe havia destruído a sua família de sangue.
Esta mudança dura pouco pois um problema grave obriga-o a regressar ao seu lugar de sempre. A tensão entre os Infidelz e um clube rival, os Wheelers 2 tinha rebentado numa noite trágica num casino onde no final se confundiam os cadáveres de membros com os de simples cidadãos. Os jornais noticiavam o caso como “uma guerra” e Patch sabe que tem de regressar para ajudar o clube quer estabelecendo a paz quer partindo para a luta.
Desta vez não é só a sua vida que está em risco mas também a própria vida dos Infidelz. Patch prepara-se para proteger os seus irmãos mesmo que para tal tenha que destruir qualquer um que se cruze no seu caminho. Mesmo que isto signifique ter que enfrentar os demónios do passado, Patch repara a sua Harley, afia a faca e salta para a estrada para aquela que poderia vir a ser a sua última viagem.
 
EXCERTO DO LIVRO
 
Uma dúzia de quilómetros de distância, numa estrada escura, um motociclista solitário dirigiu-se a Trader. Usava um capacete tipo coco, olhou para cima através da escuridão da estrada e viu as estrelas brilharem no céu. Marco era suposto encontrar-se com um par de irmãos do seu clube os Infidelz MC. Um por um cada motociclista tinha optado por abandonar o trajecto. Marco continuou de qualquer das formas. Tinha ganho o seu patch dos Infidelz menos de três semanas antes. Qualquer pretexto era bom para poder rodar. Nada o podia impedir de desfrutar da sua FXR através do vento e saboreando uma fresca brisa de Verão sobre duas rodas.
 
Sonny Barger in
Dead in 5 Heartbeats
 
Mais informação disponível em:
http://www.deadin5heartbeats.com
 
 
6 Chambers, 1 Bullet
(2006)
 
 
Nesta novela o anti-heroi Patch Kinkade tem como objectivo descobrir quem é o responsável pela morte de três dos seus irmãos. Patch Kinkade é o líder do famoso Moto Club Infidelz e está habituado a lidar com diversos vilões mas o caso desta vez tem a ver com três membros do seu grupo encontrados mortos numa câmara frigorífica juntamente com as suas motos e com 100 dólares em notas falsas metidas nas suas bocas. Este sinal leva-o a crer que tenha sido a máfia russa a realizar o trabalho.
Após alguma investigação, Patch Kinkade descobre que existe uma nova família dentro do crime organizado que se tenta estabelecer dentro do seu território, o cartel Shalinsky.
O líder desta organização encontra-se detido a aguardar julgamento e tudo leva a crer que Patch não conseguirá atingir os seus objectivos facilmente.
Graças a um esquema bem elaborado, Patch consegue infiltrar-se na prisão onde vai levar a cabo a sua missão, vingar a morte dos seus irmãos e recuperar o domínio para os Infidelz.
 
EXCERTO DO LIVRO
 
A voz rouca por trás da ventoinha era inconfundível. Era Rancid. Não o cheiro (ranço), mas uma pessoa real chamada Rancid, um membro antigo e actual presidente do chapter Desert Palm dos Infidelz Motorcycle Club. Um punhado de antigos soldados do MC chamou-o Henry. Outros Hank. Tinha uma pequena mas grave emergência entre as mãos.
“Henry. Jesus, depois de três anos. Que diabo?” Patch detestava telefonemas a meio da noite, era um ódio que chegara com a idade a experiência e as responsabilidades. Quem estaria com problemas? Quem se teria metido em confusões desta vez?
 
Sonny Barger in
6 Chambers, 1 Bullet
 
Mais informação disponível em:
http://6chambers1bullet.com
 
 
Freedom: Credos from the Road
(2005)
 
 
Sonny Barger, como já vimos, autor de diversos livros de sucesso, arrisca-se a superar largamente o êxito alcançado anteriormente, com o lançamento desta obra.
Em “Freedom” encontramos uma filosofia bem definida para aqueles que levam a vida na estrada de forma radical. Após a sua leitura compreendemos porque se costuma dizer que Sonny Barger é o líder espiritual dos Hells Angels e a maior referência para muitos outros motociclistas, bikers e simples cidadãos que se revêem nesta linha de pensamento.
O conteúdo desta obra é de tal forma importante e rico que se torna um desperdício imperdoável deixar passar cada dia sem a sua leitura. A vasta experiência de Sonny é-nos apresentada como um farol e um guia não só para a vida na estrada como para o dia-a-dia, mas tenha atenção a um aspecto importante, “Freedom” não é um manual para ser lido como obra de bricolage, do tipo “faça você mesmo”. A filosofia de Barger deverá ser entendida como uma preparação para um tipo de atitude e nunca uma receita para este ou aquele acto isolado.
Talvez nunca tenha sido tão bem exposta num livro a célebre máxima que nos diz que para cada acção existe sempre uma reacção, e se não tivermos isto em conta arriscamo-nos a perder o verdadeiro sentido da mensagem de Ralph Sonny Barger e a deturpar a sua linha de pensamento.
Este não é um livro que promova a cristã doutrina do “dar a outra face”, antes sim encontra-se impregnado de um pragmatismo por vezes chocante onde impera mais a máxima “olho por olho, dente por dente”. Mas calma!! Também não pretende ser um tratado judaico do toma lá dá cá. A sua linha de pensamento fixa-se em três pilares sólidos (como uma trindade) que são: A Independência, a Tenacidade e a Equidade e é a partir daqui que tudo se desenvolve.
 
Independência
Constrói-te a ti próprio; A originalidade não se fabrica em série
 
Tenacidade
Há que saber temperar o aço para forjar uma lâmina forte
 
Equidade
Se me tratares bem, vou-te tratar melhor, se me tratares mal tratar-te-ei pior
 
Se quisermos reduzir a uma frase esta obra impar não vejo melhor expressão do que esta última.
Barger em tudo se revela como um americano típico, preocupado sempre com os seus direitos e com o cumprimento das regras, ele é ao mesmo tempo o veterano patriota mas também o rebelde inconformado, um ícone da cultura norte americana mas também o osso duro de roer para o sistema, contudo admite que em estrada tudo seja diferente e nela existem outros códigos que emanam de algo superior que foge ao controle de cada um, a receita para se estar em harmonia com ela? … Conhecer as suas regras e seguir o seu ritmo.
Neste ponto, Barger não só optou por essa filosofia em estrada, como a transportou para a sua vida, mesmo talvez sabendo das consequências dolorosas que isso lhe traria e lhe continua a trazer. É aqui que entra a riqueza humana deste homem, que se soube elevar acima de si, despojando-se dos seus confortos pessoais em prol da sua filosofia de vida e em prol do seu Clube de sempre, os Hells Angels. Apenas percorrendo os trilhos que Barger percorreu se poderia apresentar este livro onde sem receios e com uma frontalidade e honestidade para consigo, com os seus irmãos e para com todos aqueles que lerem esta obra, se descrevem episódios menos felizes da sua vida como a fase do consumo de drogas que assume mas não recomenda para ninguém.
Raramente temos disponível nas prateleiras das livrarias, obras com a utilidade humana desta. Barger penso que não o fez intencionalmente, apenas quis fixar em papel a essência da sua experiência de vida e não se limitou a partilha-la com um punhado de amigos em circulo fechado, num acto de extrema generosidade colocou-a ao dispor de todos e sem querer, “Freedom” tornou-se num marco sólido do pensamento filosófico norte-americano para o século XXI. Então poderemos, quem sabe, dizer que Barger não desperdiçou a sua vida, antes sim sobe mostrar-nos que todas as nossas capacidades e potencial apenas dependem da nossa vontade para vingarem, mesmo que pelo caminho se encontrem barreiras que nos pareçam humanamente impossíveis de transpor. Penso que é esse o maior exemplo de “dureza” que Barger nos revela nesta obra, não a dureza de uma luta que se esgota em sangue mas a dureza de saber resistir e de saber sofrer por uma causa quase até à exaustão da alma. E se assim foi, Barger, mais do que um guerreiro foi um resistente cujas armas mais letais que possuiu foram a humildade e a reflexão séria e profunda, nunca se deixando contudo humilhar, fosse qual fosse o preço a pagar.
Recomendamos esta obra a toda a gente e muito especial e seriamente a jovens adolescentes e seus pais (como teria sido tudo tão mais fácil se este livro existisse há 25 anos atrás)
Recomenda-se a sua leitura ainda a todos os motociclistas e suas famílias, a trabalhadores e patrões, médicos e doentes, professores e alunos, juízes e condenados, padres e prostitutas, casados e solteiros, homens e mulheres, avós e netos, gajas boas e camafeus, políticos e contribuintes, ao vizinho e à vizinha e até ao Obama e ao Ossama.
 
EXCERTO DO LIVRO
 
Havia um jovem que se juntara ao clube e eu percebi logo que ele estava um pouco retraído e esquivo. Gostava dele e tinha votado para que ele fosse aceite definitivamente, senti que ele talvez não se sentisse muito confortável, estava um pouco intimidado e com um pouco de medo. Aproximei-me dele e disse-lhe em primeiro lugar que estava feliz por ele estar connosco, de seguida pedi-lhe para limpar algum do lixo que se amontoava nas traseiras da sede. Ele obedeceu prontamente. Eu respeitei a sua introdução aos poucos e ele respeitava o porquê de lhe incumbir tarefas daquele género. Tornou-se um Irmão para a vida e um dos melhores membros que qualquer organização poderia ter.Um membro muito leal.
 
Sonny Barger in
Freedom: Credos from the Road
 
 [sbbd.JPG]
 
HAPPY BIRTHDAY, SONNY!!
 
 
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publicado por Cavalo Alado às 00:11
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