Nós, homens da estrada, tantas vezes habituados a lidar com um destino madrasto que nos vai levando tantos companheiros, amigos, familiares, sentimo-nos impotentes e chocados perante a tragédia que se abateu sobre os nossos compatriotas Madeirenses. Na ânsia de procurarmos respostas talvez nos esqueçamos de fazer algumas perguntas, das quais quem sabe a mais importante será “Mas que posso eu fazer afinal?”
Daquilo que conheço do mundo das motos e mais concretamente do mundo dos motociclistas, uma das mais elevadas qualidades que reconheço em nós é a nossa predesposição para os mais elevados sentimentos de generosidade e de solidariedade. Nem sempre é necessária a contribuição material descontrolada e esbanjadora que acaba por ter um resultado final quantas vezes antagónico aos fins a que se propõe inicialmente. Contudo penso ser dever de todos nós, com frieza, seriedade e sobretudo com muita, muita organização partir para acções que promovam a ajuda aos portugueses afectados por esta rasteira da vida.
Sabendo todos nós que não há e nem pode haver nunca preço que compense cada vida perdida, talvez seja um momento para reflexão e pensar afinal que cor pode tomar afinal a solidariedade. A nossa, neste momento, é sem duvida a cor da bandeira da Região Autónoma da Madeira que ao azul e amarelo juntou agora a cor negra da tragédia.
Contudo, sabemos que a vida continua, tem que continuar e o tempo, só ele pode levar para longe a dor imensa que neste momento nos atravessa a todos, acredito.
A todos os companheiros apelamos à sobriedade e contenção que é já habitual na nossa classe neste momento tão duro para o país. Aos companheiros motociclistas da Madeira queremos dizer-lhes que apesar deste mar imenso que nos separa em milhas, talvez nunca os nossos corações tenham estado tão próximos, unidos por milímetros, por isso, de cada vez que o desânimo vos atinja pensem sempre que deste lado está gente simples e frágil também mas que está com o seu pensamento virado para vós sempre na esperança de que num dia de sol possamos rodar juntos, se não com as nossas motos que seja simplesmente com a nossa alegria.
Que o futuro vos traga a justa compensação em felicidade para a vossa (nossa) dor.
Alfredo Nobre
Em nome do Cavalo Alado.