A descida de Bray Hill é uma das muito numerosas passagens difíceis do Tourist Trophy. Quando as máquinas a abordam, propõe-se que o seu motor gire no regime máximo e que embale devido às perdas de aderência da roda motriz, devido às irregularidades do piso em calçada. No final desta interminável descida, as máquinas quase estancam no início da subida seguinte e as suspensões percorrem o seu curso total. Leslie Graham, ex-piloto da R.A.F., tinha já passado por situações bem mais perigosas a bordo do seu avião. Por isso não hesita em lançar a sua MV Agusta de 4 cilindros com o acelerador a fundo, afim de conquistar mais uns décimos de segundo a Duke e Amm que se encontram à sua frente.
Decorria o dia 12 de Junho de 1953. O que restou da moto não permitiu apurar com certeza o que acontecera na verdade, mas supõe-se que a suspensão telescópica frontal tenha bloqueado. Graham, com uma lesão no braço, causada por uma queda nos treinos, não foi capaz de controlar a pesada máquina lançada a 200 Km/h e foi embater no parapeito da estrada. Poucos dias antes havia ganho brilhantemente a prova de 125cc, batendo Haas em NSU, o mais temido dos seus adversários.
Leslie Graham aos comandos de uma Gilera

Leslie Graham, nascido em Wallasey (Grã-Bretanha) em 1911, era realmente um piloto completo. Era de baixa estatura e muito adaptável às motos, possuía um rosto aberto e boas maneiras, uma elevada coragem e uma notável competência técnica. Iniciou-se nas corridas aos 16 anos com uma JAP 350cc que depressa trocaria por uma Rudge a qual substituiu por fim por uma Supreme. Contudo o inicio da sua carreira não foi propriamente brilhante, embora tenha competido assiduamente em provas antes da Segunda Guerra. Após o conflito, durante o qual serviu como tenente da R.A.F., Graham entrou em 1947 na equipa oficial A.J.S. e pilotou as 350cc monocilíndricas da firma bem como a famosa bicilindrica 500cc chamada "Porco-espinho" devido às asas das quais saíam as culatras. Este motociclo melhorava de corrida em corrida. Após um nono lugar obtido no Tourist Trophy de 1947, fica completamente competitiva e encontra-se perfeitamente no ponto em 1949, aquando da criação do Campeonato do mundo. É sobre o selim deste motociclo que Graham ultrapassou a Norton no Tourist Trophy até 2 quilómetros da meta, ou seja até ao momento em que problemas com o magneto o atrasam e obrigam a deixar fugir a vitória para Daniell. A sua desforra chegará em Berna, onde se impõe à frente da Gilera de 4 cilindros de Artesiani, a sua prestação segue com um segundo lugar em Assen, entre 2 Gileras, a do vencedor, Nello Pagani, e o terceiro, Artesiani. Vencedor no Ulster, é sexto em Monza, após ter sido vítima de uma saída de pista para evitar Bandirola, caído à saída de uma curva. Conseguirá no entanto ganhar o título de Campeão do mundo, com só um ponto de distância sobre Nello Pagani. Esta vantagem tão fraca gerará uma longa controvérsia sobre as disposições contestáveis do regulamento então em vigor. De acordo com este, com efeito, o ponto de vantagem de Graham sobre Pagani tinha sido adquirido no circuito do Bremgarten como recompensa atribuída ao autor da volta mais rápida; realmente, esta volta tinha sido realizada por Frend, mas o regulamento não tomava em consideração o desempenho efectuado por um corredor que se tivesse retirado, como era precisamente o caso de Frend. Nello Pagani consolou-se com o título da classe 125, e Leslie Graham teve assim a insigne honra de ser o primeiro campeão do mundo na classe 500cc. Em 1950, a A.J.S. “Porco-espinho” não é a mesma do ano precedente e não está à altura da Norton e da Gilera, que tinham feito notáveis progressos. Isso não impedirá Graham de se impor, igualmente na corrida de 350cc como na de 500cc, num Grande Prémio da Suíça disputado sob a chuva. Os seus outros resultados da estação são um quarto lugar ao Tourist Trophy, um segundo lugar em Monza, na prova do 350cc, onde é batido ao sprint por Duke, e ainda um quarto lugar no Tourist Trophy e um segundo no Ulster na classe 500cc, atrás do mesmo Duke. No fim desta temporada, Graham entra para a MV Agusta, que procura precisamente um homem do seu quilate para desenvolver os seus modelos 500cc de 4 cilindros. 
O piloto Inglês conserva contudo a liberdade de correr para a Velocette em 350cc; sobre esta máquina, é vencedor em 1951 em Berna e segundo no Tourist Trophy, ganho por Tommy Madeira sobre uma Moto Guzzi. Sob as cores MV Agusta, em contrapartida, não obtém nenhum resultado notável na classe 500cc e termina em terceiro em Assen. Mas os esforços realizados por Graham produzirão os seus frutos em 1952, e os 4 cilindros MV ameaçarão as Gileras e as Norton oficiais. Graham termina em segundo no Tourist Trophy, muito perto
do vencedor Armstrong sobre Norton, quarto na La Solitude, e primeiro em Monza e na Espanha, precedendo nestas duas últimas circunstâncias Umberto Masetti, que será o vencedor do Campeonato do mundo com a Gilera de 4 cilindros. Ainda em 1952, Graham corre na classe 250cc e termina terceiro em Berna sobre uma Benelli, quarto no T.T. e terceiro no Ulster sobre uma Velocette. Na classe 125c, sob as cores MV Agusta, é terceiro em Monza e segundo em Barcelona, atrás da Morini de Mendogni.
E eis-nos no fatídico ano de 1953, que trará com ele o fim da carreira de Leslie Graham. A partir da primeira prova do Campeonato na Ilha de Man: vencendo na categoria de 125cc, perecerá tragicamente aquando da corrida de 500cc nas circunstâncias que atrás relatámos.
Stuart Graham

Muitos anos passaram mas o nome de Graham reentraria outra vez nos circuitos, dado que o seu filho, Stuart, decidiu seguir o exemplo paternal. Stuart é um jovem delicado e reservado, de quem se ouvirá falar muito em 1966 e 1967, antes de abandonar a competição. Em 1966, com efeito, logra inscrever o seu nome no palmarés do Tourist Trophy, onde conquista o segundo lugar com a sua Honda 250cc, atrás Hailwood; é seguidamente quarto em Sachsenring e segundo em Monza, atrás de Hailwood, que domina praticamente todas as corridas do campeonato nesta temporada. Recordem o magnífico duelo que opôs Stuart e Renzo Pasolini na prova do 350cc em Assen, o primeiro sobre uma A.J.S, como o seu pai, o outro sobre uma Aermacchi. No sprint final, Pasolini terminará em terceiro e Graham em quarto. Ainda em 1966, Stuart termina em quarto em Hockenheim, quinto em Assen e segundo na Bélgica atrás de Agostini, sobre uma Matchless 500cc. Em 1967, é contratado pela Suzuki: na classe 50cc, será terceiro em Clermont-Ferrand, primeiro no Tourist Trophy, terceiro na Bélgica e segundo em Fisco no Japão. Em 125cc, o título é conquistado por Bill Ivy, mas Graham ganha notáveis sucessos: vencedor em Imatra, segundo no Tourist Trophy e Checoslováquia, terceiro na Holanda e no Ulster. Mas, em 1968, desencorajado pela dificuldade para encontrar máquinas suficientemente competitivas, Stuart Graham põe fim a uma carreira já brilhante e que se anunciava muito prometedora. Tinha apenas vinte e seis anos dado que dado que nascera em 1942 em Nantwich, no Cheshire (Grã-Bretanha).
